GUIA CLÍNICO DETALHADO: DEISCÊNCIA DE SUTURA E OSSO EXPOSTO EM IMPLANTODONTIA
Com base no ensino da Dra. Evelyn Lacerda e complementações científicas
1. INTRODUÇÃO
A deiscência de sutura é uma intercorrência comum na implantodontia, especialmente em cirurgias maiores ou em pacientes com comprometimento de cicatrização. Ocorre quando as bordas da ferida cirúrgica se abrem após a sutura, podendo deixar o osso exposto.
Dra. Evelyn Lacerda enfatiza: a conduta imediata é essencial para evitar necrose, infecção ou perda do implante.
2. CAUSAS COMUNS DA DEISCÊNCIA
• Tensião excessiva na sutura
• Manipulação traumática dos tecidos
• Isquemia gengival
• Falta de espessura gengival adequada
• Tabagismo
• Hiperglicemia não controlada
• Higiene bucal inadequada no pós-operatório
3. CONDUTA CLÍNICA IMEDIATA
3.1 NÃO fazer:
• NÃO refazer a sutura: o colágeno está desestruturado. Dar novo ponto pode rasgar ainda mais.
• NÃO usar cimento cirúrgico diretamente sobre o osso exposto. Ele pode impedir a revascularização e epitelização natural.
3.2 O que fazer:
1. Aplicar pomada de metronidazol + anestésico (ex: dacicloína 2%) 2x/dia por 7 a 10 dias.
2. Higiene local: escova ultramacia, soro fisiológico ou clorexidina 0,12%.
3. Evitar trauma local: não manipular, evitar mastigação no local e orientar o paciente.
4. Laserterapia (LLLT): se disponível, usar 660nm ou 808nm, 1x ao dia, 3 a 5 dias seguidos.
5. Registro fotográfico semanal para acompanhar epitelização.
3.3 Tempo de cicatrização:
• 5 a 10 dias: inicia-se granulação tecidual.
• 14 a 21 dias: epitelização parcial.
• 30 dias: fechamento completo em casos favoráveis.
4. FALAS MARCANTES DA DRA. EVELYN
• “Não reestrutura! Confia na natureza. Ela sabe o que fazer. Você só não pode atrapalhar.”
• “O cimento cirúrgico não foi feito para estar em contato com osso exposto.”
• “Suturar de novo é como costurar tecido molhado e frágil. Vai rasgar de novo.”
5. QUANDO INTERVIR CIRURGICAMENTE
Se após 14 dias:
• Não houver granulação tecidual visível;
• O osso estiver com sinais de necrose ou infecção (odor, supuração);
• Houver dor persistente;
Então considerar:
• Enxerto gengival livre ou laminar
• Nova cirurgia com retalho reposicionado
6. ARTIGOS E REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
• Tonetti MS et al. (2007). Management of soft tissue dehiscences around dental implants.
• Novaes AB Jr. et al. (2011). Guided tissue regeneration for dehiscence coverage in implants.
• PubMed – Dehiscence after flap surgery
7. RESUMO VISUAL (conduta de bolso)
Paciente com osso exposto após cirurgia?
• NÃO suture de novo
• Aplique pomada metronidazol + anestésico
• Oriente higiene leve e controlada
• Se possível, aplique laser
• Reavalie em 7 e 14 dias
Uso do creme vaginal de metronidazol na cavidade oral (em odontologia):
1. É comum?
Sim. Pomadas de metronidazol tópicas (como as vaginais) são amplamente utilizadas por cirurgiões-dentistas off label para tratamento de:
Deiscência de sutura com osso exposto Gengivites localizadas Lesões de mucosa com infecção bacteriana anaeróbia Áreas de perimplantite com exposição inicial de rosca
2. Por que funciona?
Metronidazol tem excelente ação contra bactérias anaeróbias — as mais comuns nas infecções cirúrgicas odontológicas. A forma em gel ou creme vaginal tem boa aderência à mucosa oral, promovendo ação prolongada.
3. E quanto ao anestésico?
Pomadas como a Dacicloína combinam metronidazol + anestésico (geralmente lidocaína), promovendo ação antimicrobiana e conforto imediato ao paciente.
4. É seguro?
Em geral, sim — desde que o paciente não tenha alergia a nenhum dos componentes (metronidazol, anestésicos locais, excipientes da formulação vaginal).
Como usar na prática clínica:
Aplicar uma camada fina com cotonete ou dedo limpo diretamente sobre a área exposta. 2 a 3 vezes ao dia. Por 5 a 7 dias ou conforme evolução clínica.
Atenção clínica:
Esse uso é “fora da bula”, mas respaldado por experiência clínica e literatura científica (ver abaixo). Evitar ingestão da pomada (uso tópico somente). Não utilizar pomadas com hormônios (ex.: creme vaginal de metronidazol com estrogênio – inadequado para uso oral).
Artigo de apoio:
Feller & Lemmer, 2012 – “Antimicrobial agents in periodontal treatment”
Metronidazol tópico pode ser utilizado em aplicações locais, inclusive em forma de gel vaginais, quando manipuladas ou indicadas para uso oral por profissionais capacitados.
Resumo prático:
Produto
Uso oral off-label?
Eficácia
Observações
Metronidazol gel vaginal
Sim
Alta
Usar sem hormônios
Dacicloína (metro + anestésico)
Sim (muito usado)
Muito alta
Preferido por dentistas
Pomadas manipuladas
Sim
Excelente
Pode ajustar concentrações
Se quiser, posso montar um guia clínico PDF para uso dessa pomada na odontologia com referências. Deseja?